Em 22 de novembro de 1968 o mundo conheceu uma obra sem precendentes. Avant Garde sem deixar de ser rock; aliás um dos discos mais rock que se há notícia. Porém fragmentária, encontrando soluções inteligentes a serviço do exagero quantitativo, com faixas pouco conectadas estilisticamente umas com as outras (o que ocorre ocasionalmente também), seus 04 lados dando uma progressiva cara a um álbum que só pode ser realmente entendido e apreciado dentro da completude de suas 33 músicas! O caráter individual do Álbum Branco não se restringe ao modus operandis dos 04 compositores-músicos e agora homens de negócio. Era definitivamente uma nova fase pós-retiro na Índia, perda de Epstein, divórcios, casamentos e, da parte de John, heroína e Yoko. A busca por paz interior em Rishikesh teve como efeito para os Beatles, além da quantidade enorme de novas músicas, a preparação para mais um vôo na carreira: assumir a reponsabilidade de gerir a Apple Music e cuidar de um negócio pra lá de atribulado, enquanto continua-se a produzir boa música. Pelo menos nesse quesito, ainda que muita gente torça o nariz para uma ou outra extravagância, a maturidade e capacidade de produzir diversas sonoridades soando sempre Beatles e impecável em todas elas é suficiente para atestar o álbum como superior a qualquer outro lançado até então, ainda que outros clássicos anteriores e o Abbey Road sejam mais 'favoritos' em listas como tais. Pessoalmente acho cada novo disco produzido pelos Beatles uma evolução em relação ao anterior, com exceção de Let it Be, gravado imediatamente após o lançamento de The BEATLES, que tinha a idéia geral de ser um projeto revisionista e não apontando pro futuro. E o futuro é aqui. Um disco (digo, dois) verdadeiramente transcendental.
1-01 - Back In The U.S.S.R. (Lennon/ McCartney)
Ringo não aparece nas duas primeiras faixas, sinal dos tempos. Sua saída da banda, ainda que por pouco tempo, foi o começo da sensação geral de que se estava começando o fim. Mas como terminar com uma banda que é parte de como uma pessoa se vê agindo no mundo, em toda sua vida adulta? A neurose dos Beatles em registrar tanto material novo é descrito por Harrison como o ego de seus integrantes vindo à tona, com sessões muitas vezes tensas e diferente dos "velhos tempos" onde 'os cinco', banda e produtor eram um grupo coeso de trabalho, assistido apenas por um engenheiro de som ou algum assistente da banda. A fórmula para essas gravações que cobriram longos 05 meses era não esperar por ninguém, e muitas vezes não contar mesmo com o outro. Paul já havia sido baterista em uma gig logo antes de irem para Hamburgo no começo de carreira. Na faixa de abertura, de inspiração beachboyniana ele faz o básico, mas certamente o que ele apronta em "Dear Prudence" estava à altura das inovações de Ringo. A música de John é marcada pela afinação da corda 'Mizona' do violão (a mais grave) um tom mais baixo (ou seja, Re), e um peculiar dedilhado que Lennon havia aprendido na Índia com Donovan. Depois da ótima "Glass Onion" - "the walrus was Paul" sendo a melhor das várias sacadas na letra - o reggae é o ponto de partida para uma faixa quase infantil. Para Paul, "Ob-La-Di Ob-La-Da" seria o próximo single. Alguma dúvida de que iria vender como água? As estranhezas dão o primeiro sinal de vida numa vinheta produzida por McCartney sozinho. Nada muito sério. John apresenta Yoko ao mundo fonográfico em "Bungalow Bill", liderando uma brincadeira alegre em tons melancólicos (ouça o tema tocado no melotron ao final da faixa). Os vocais de Ringo no refrão, junto à sua então esposa Maureen, mais John&Yoko são o ponto alto. Simplicidade em meio à bagunça. E antes que o ouvinte se recupere do susto que é "While My Guitar..." - e o solo de um coringa, frequentemente referido como "Deus" (se bem que pra mim 'deus' é Hendrix), John faz mais um gol de placa: "Happiness is a warm gun" parece ser a música favorita tanto de Paul como de George nesse disco. Uma 'ajuntamento' de três canções distintas, "I Need a Fix" pode ser conferida no Anthology 3 na versão demo caseira. O que se tornou a master começa com um riff hipnótico que introduz versos psicodélicos. Em seguida uma guitarra saturada introduz outro riff desta vez pesadão, num 6/8 que desemboca num ajustamento livre da métrica que pode ter influenciado caras como Syd Barrett e algumas músicas de seu Pink Floyd. Por fim, o título, uma manchete de uma matéria numa revista trazida ao estúdio por George Martin, com o clássico "Bang Bang, Shoot Shoot". Que golaço!
1-09 - Martha My Dear (Lennon/ McCartney)
1-02 - Dear Prudence (Lennon/ McCartney)
1-03 - Glass Onion (Lennon/ McCartney)
1-04 - Ob-La-Di Ob-La-Da (Lennon/ McCartney)
1-05 - Wild Honey Pie (Lennon/ McCartney)
1-06 - The Continuing Story Of Bungalow Bill (Lennon/ McCartney)
1-07 - While My Guitar Gently Weeps (Harrison)
1-08 - Happiness Is A Warm Gun (Lennon/ McCartney)Ringo não aparece nas duas primeiras faixas, sinal dos tempos. Sua saída da banda, ainda que por pouco tempo, foi o começo da sensação geral de que se estava começando o fim. Mas como terminar com uma banda que é parte de como uma pessoa se vê agindo no mundo, em toda sua vida adulta? A neurose dos Beatles em registrar tanto material novo é descrito por Harrison como o ego de seus integrantes vindo à tona, com sessões muitas vezes tensas e diferente dos "velhos tempos" onde 'os cinco', banda e produtor eram um grupo coeso de trabalho, assistido apenas por um engenheiro de som ou algum assistente da banda. A fórmula para essas gravações que cobriram longos 05 meses era não esperar por ninguém, e muitas vezes não contar mesmo com o outro. Paul já havia sido baterista em uma gig logo antes de irem para Hamburgo no começo de carreira. Na faixa de abertura, de inspiração beachboyniana ele faz o básico, mas certamente o que ele apronta em "Dear Prudence" estava à altura das inovações de Ringo. A música de John é marcada pela afinação da corda 'Mizona' do violão (a mais grave) um tom mais baixo (ou seja, Re), e um peculiar dedilhado que Lennon havia aprendido na Índia com Donovan. Depois da ótima "Glass Onion" - "the walrus was Paul" sendo a melhor das várias sacadas na letra - o reggae é o ponto de partida para uma faixa quase infantil. Para Paul, "Ob-La-Di Ob-La-Da" seria o próximo single. Alguma dúvida de que iria vender como água? As estranhezas dão o primeiro sinal de vida numa vinheta produzida por McCartney sozinho. Nada muito sério. John apresenta Yoko ao mundo fonográfico em "Bungalow Bill", liderando uma brincadeira alegre em tons melancólicos (ouça o tema tocado no melotron ao final da faixa). Os vocais de Ringo no refrão, junto à sua então esposa Maureen, mais John&Yoko são o ponto alto. Simplicidade em meio à bagunça. E antes que o ouvinte se recupere do susto que é "While My Guitar..." - e o solo de um coringa, frequentemente referido como "Deus" (se bem que pra mim 'deus' é Hendrix), John faz mais um gol de placa: "Happiness is a warm gun" parece ser a música favorita tanto de Paul como de George nesse disco. Uma 'ajuntamento' de três canções distintas, "I Need a Fix" pode ser conferida no Anthology 3 na versão demo caseira. O que se tornou a master começa com um riff hipnótico que introduz versos psicodélicos. Em seguida uma guitarra saturada introduz outro riff desta vez pesadão, num 6/8 que desemboca num ajustamento livre da métrica que pode ter influenciado caras como Syd Barrett e algumas músicas de seu Pink Floyd. Por fim, o título, uma manchete de uma matéria numa revista trazida ao estúdio por George Martin, com o clássico "Bang Bang, Shoot Shoot". Que golaço!
1-09 - Martha My Dear (Lennon/ McCartney)
1-10 - I'm So Tired (Lennon/ McCartney)
1-11 - Blackbird (Lennon/ McCartney)
1-12 - Piggies (Harrison)
1-13 - Rocky Raccoon (Lennon/ McCartney)
1-14 - Don't Pass Me By (Starkey)
1-15 - Why Don't We Do It In The Road (Lennon/ McCartney)
1-16 - I Will (Lennon/ McCartney)
1-17 - Julia (Lennon/ McCartney)
O lado 2 do disco é o que mais se parece com uma coleção de esforços individuais, e o que também deixa claro a inspiração minimalista das composições nascidas no esquema voz-violão. Minimalismo este que desembocaria no conceito geral da capa branca e título do disco. "Martha My Dear" começou como um estudo de piano para Paul McCartney e virou uma de suas canções mais líricas. "I'm So Tired" é outra de John que revisita a sonoridade 'banda', como em "Happiness...", enquanto que "Blackbird" é novamente Paul on his own banquinho-e-violão. É a segunda diferença significativa da mix Mono em relação à Estéreo (a primeira sendo a intro de "Ob-La-Di..."): o canto dos pássaros-negros aparece aqui em momentos distintos, e soam diferente mesmo. "Piggies" é um comentário social de George Harrison sobre a classe média no Reino Unido, e sua mãe contribuiu com o verso "all they need is a damn good wacking"! "Rocky" é o personagem principal de uma estorinha estilo "faroeste" de Paul, com intervenções interessantes de gaita e harmônio (Lennon), baixo com pedal (Harrison) e piano honky-tonk (George Martin). Em "Don't Pass Me By" acontece o mesmo que "She's Leaving Home": a rotação é alterada para cima, deixando a música 'mais alegrinha'. Esse country de Ringo já vinha sendo composta há alguns anos, e no final da música ouve-se a 'rabeca' (violino) de Jack Fallon numa versão completamente diferente do que se conhecia na stereo mix. "Why Don't We.." também omite algumas palmas na introdução, e o lado 2 do disco 1 fecha magistralmente com duas baladas: "I Will" e "Julia", ambas canções que, assim como "Good Night", embalaram muitas noites de sono de minha pequena Julia.
O lado 2 do disco é o que mais se parece com uma coleção de esforços individuais, e o que também deixa claro a inspiração minimalista das composições nascidas no esquema voz-violão. Minimalismo este que desembocaria no conceito geral da capa branca e título do disco. "Martha My Dear" começou como um estudo de piano para Paul McCartney e virou uma de suas canções mais líricas. "I'm So Tired" é outra de John que revisita a sonoridade 'banda', como em "Happiness...", enquanto que "Blackbird" é novamente Paul on his own banquinho-e-violão. É a segunda diferença significativa da mix Mono em relação à Estéreo (a primeira sendo a intro de "Ob-La-Di..."): o canto dos pássaros-negros aparece aqui em momentos distintos, e soam diferente mesmo. "Piggies" é um comentário social de George Harrison sobre a classe média no Reino Unido, e sua mãe contribuiu com o verso "all they need is a damn good wacking"! "Rocky" é o personagem principal de uma estorinha estilo "faroeste" de Paul, com intervenções interessantes de gaita e harmônio (Lennon), baixo com pedal (Harrison) e piano honky-tonk (George Martin). Em "Don't Pass Me By" acontece o mesmo que "She's Leaving Home": a rotação é alterada para cima, deixando a música 'mais alegrinha'. Esse country de Ringo já vinha sendo composta há alguns anos, e no final da música ouve-se a 'rabeca' (violino) de Jack Fallon numa versão completamente diferente do que se conhecia na stereo mix. "Why Don't We.." também omite algumas palmas na introdução, e o lado 2 do disco 1 fecha magistralmente com duas baladas: "I Will" e "Julia", ambas canções que, assim como "Good Night", embalaram muitas noites de sono de minha pequena Julia.
2-01 - Revolution (Lennon/ McCartney)
Em 30 de agosto, a Apple era sacramentada com seu primeiro lançamento, mais um compacto a mudar as regras fixas do mercado fonográfico. Uma música de trabalho de mais de 7 min não era algo pensável, mas sendo agora donos do próprio nariz, os Beatles mais do que nunca jogavam as cartas do próprio jogo. Mr. Ballad Man, Paul McCartney, compôs "Hey Jude" enquanto estava a caminho da casa de John, que não estava mais lá, mas sim Cynthia Lennon e seu filho Julian. A letra, mais do que Paul consolando o garoto, é um recado direto a seu pai, especialmente no verso "go out and get her". Ao seguir "Julia" com "Hey Jude", põe-se em perspectiva seus temas como se estivessem relacionados: a falecida mãe de John, Yoko ("ocean child") e Julian... O longo final da música soa como um canto ritualístico, um mantra pop. Ou nada disso, apenas mais uma maneira de se fazer uma canção perfeita. O lado B aqui abre 'meu' segundo Cd, e assim temos as três encarnações de "Revolution" num mesmo disco. E as guitarras estridentes dessa versão é uma ótima introdução ao lado 3 do Álbum Branco...
2-02 - Birthday (Lennon/ McCartney)2-03 - Yer Blues (Lennon/ McCartney)
2-04 - Mother Nature's Son (Lennon/ McCartney)
2-05 - Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey (Lennon/ McCartney)
2-06 - Sexy Sadie (Lennon/ McCartney)
2-07 - Helter Skelter (Lennon/ McCartney)
2-08 - Long Long Long (Harrison)
"Birthday" continua o clima "jam session" que se estende até "Yer Blues", no pedaço de vinil mais pesado e cru de qualquer álbum dos Beatles. Remasterizados, o blues e todas as faixas que a banda toca junto ganharam um brilho em sua sonoridade jamais ouvida anteriormente. Eu sempre achei que o problema era porque as gravações ao vivo não poderiam ter a mesma qualidade das gravadas em separado. Mas ao que parece a pós-produção fez toda a diferença! E antes de mais um rockão, Paul mais uma vez acompanhado só de músicos de estúdio (trompas) nos leva ao bucólico mundo de Rishikesh em "Mother Nature's Son". A irmã-gêmea "Child of Nature" de John só viria a ser resolvida como "Jealous Guy" três anos depois... "Everybody's..." é de minhas prediletas. Groove matador de baixo, guitarras no talo, riff certeiro e um sinal de alarme de incêndio que deu um charme especial, além de gritinhos e falatório ao final. John continua a ter o Maharishi em mente na próxima composição. "Sexy Sadie" de alfinetada acabou virando uma grande música, com vocais que remetem à terceira parte de "Happiness..." e órgão e piano (John e Paul) bastante entrosados. O trabalho de contrabaixo de Paul também é destaque (como sempre). Mas o auge estava apenas com seu terreno assentado. "Helter Skelter" foi parido numa sessão que desembocou numa festinha no estúdio, com os Beatles em jams insanas e Harrison atiçando fogo a um cinzeiro, correndo de um lado ao outro com o mesmo em sua cabeça! Um bom retrato para a sonoridade caótica, que inclui vários sons esquisitos, como intervenções de saxofone de John, algo como um patinho de borracha (seguido por riso de Paul) e claro, o sensacional noise de guitarra que começa o trecho final da mono mix de maneira completamente alternativa à versão em estéreo, sem retorno triunfal e os calos nos dedos de Ringo. Após a tempestade, a calmaria chega com "Long Long Long", que tem vocais finalmente desenterrados das profundezas da mix e realçadas na remasterização. A bateria continua alta e marcante e o final é marcado pelo som do shehnai, mais uma novidade trazida da Índia. O órgão Hammond é tocado por Paul.
2-09 - Revolution 1 (Lennon/ McCartney)
2-09 - Revolution 1 (Lennon/ McCartney)
2-10 - Honey Pie (Lennon/ McCartney)
2-11 - Savoy Truffle (Harrison)
2-12 - Cry Baby Cry (Lennon/ McCartney)
2-13 - Revolution #9 (Lennon/ McCartney)
2-14 - Good Night (Lennon/ McCartney)
Como o nome indica, a versão lenta de "Revolution" foi a primeira das três a serem trabalhadas (e também a primeira das sessões começadas em Maio - opa, lembremos que estamos em 1968!!), e serviu de base para a colagem sonora do 'sonho 9' de Lennon. Os metais são uma boa introdução à sonoridade vaudeville, ou música-de-cabaré que Paul conseguiu para "Honey Pie". Anos 20 total. Saxofones marcam "Savoy Truffle" de George, que manda um órgão matador, além de um solo de guitarra à altura do que ele não fez em "While My Guitar...". Aliás é o mesmo Eric Clapton a fonte de inspiração para todos os sabores de trufas descritas na letra. Precisa falar do baixo? "Cry Baby Cry" foi descrita por Lennon como "porcaria", e guardadas as devidas proporções e radicalismo do pai da criança, eu concordaria que não é das melhores em todo o álbum. Ainda assim, não faz feio dentro do conjunto da obra, e a vinheta só agora creditada no encartes da versão digipack "Can You Take Me Back" forma uma ponte perfeita para "Revolution #9". Muito já foi dito dessa não-música, mas longe de procurar explicações que possam justificar a inclusão de 8 min de experimentalismo vanguardista, é preciso filosofar acerca da importância desse marco da música popular contemporânea. Não é à toa que 09 de setembro (09) de 2009 foi a data escolhida para lançamento da obra completa do quarteto em seus dois formatos. O que aconteceu com essa faixa foi algo que ocorre com o distanciamento que só o tempo pode proporcionar. A perspectiva histórica nos ensina que obras-de-arte não precisam de explicação, mas elas explicam-se por si mesmas. Mas minha leitura é de que "Revolution #9" é tão fundamental para o Álbum Branco como qualquer outra de suas faixas. Com o adendo de que sendo uma não-canção, ela funciona como um manifesto. O verdadeiro modernismo (ou pós-modernismo, sei lá) esboçado na colagem de fotos disposta no pôster tem como acompanhamento a trilha sonora do fim do mundo, pelo menos do jeito que o conhecíamos. É um comentário definitivo e definidor do que poderia ser uma revolução, não mais com uma letra esperta, mas sonoramente desafiador, com o tipo de manipulação de fitas que Paul fazia já algum tempo, mas que John precisou do apoio de George (e Yoko onipresente) para dar vida. Um epitáfio: "Good Night" é descrita por Paul como um dos momentos de mais ternura por parte de John, e seria uma dádiva se alguma versão com ele fazendo voz guia aparecesse em alguma compilação piratex ou não... Mas Ringo não faz feio (mesmo) e George Martin cria com seu arranjo um belo clima hollywoodiano. E assim se encerra um clássico. Com o caos solto no mundo externo e interno dos Beatles, só nos resta embalar as crianças para dormir e esperar que tudo saia bem no fim-de-tudo.
Total Time:
Disc 1 - 53:34
Disc 2 - 50:43
Download links (.flac):
Disc 1 - Part 1
Disc 1 - Part 2
Disc 2 - Part 1
Disc 2 - Part 2
Como o nome indica, a versão lenta de "Revolution" foi a primeira das três a serem trabalhadas (e também a primeira das sessões começadas em Maio - opa, lembremos que estamos em 1968!!), e serviu de base para a colagem sonora do 'sonho 9' de Lennon. Os metais são uma boa introdução à sonoridade vaudeville, ou música-de-cabaré que Paul conseguiu para "Honey Pie". Anos 20 total. Saxofones marcam "Savoy Truffle" de George, que manda um órgão matador, além de um solo de guitarra à altura do que ele não fez em "While My Guitar...". Aliás é o mesmo Eric Clapton a fonte de inspiração para todos os sabores de trufas descritas na letra. Precisa falar do baixo? "Cry Baby Cry" foi descrita por Lennon como "porcaria", e guardadas as devidas proporções e radicalismo do pai da criança, eu concordaria que não é das melhores em todo o álbum. Ainda assim, não faz feio dentro do conjunto da obra, e a vinheta só agora creditada no encartes da versão digipack "Can You Take Me Back" forma uma ponte perfeita para "Revolution #9". Muito já foi dito dessa não-música, mas longe de procurar explicações que possam justificar a inclusão de 8 min de experimentalismo vanguardista, é preciso filosofar acerca da importância desse marco da música popular contemporânea. Não é à toa que 09 de setembro (09) de 2009 foi a data escolhida para lançamento da obra completa do quarteto em seus dois formatos. O que aconteceu com essa faixa foi algo que ocorre com o distanciamento que só o tempo pode proporcionar. A perspectiva histórica nos ensina que obras-de-arte não precisam de explicação, mas elas explicam-se por si mesmas. Mas minha leitura é de que "Revolution #9" é tão fundamental para o Álbum Branco como qualquer outra de suas faixas. Com o adendo de que sendo uma não-canção, ela funciona como um manifesto. O verdadeiro modernismo (ou pós-modernismo, sei lá) esboçado na colagem de fotos disposta no pôster tem como acompanhamento a trilha sonora do fim do mundo, pelo menos do jeito que o conhecíamos. É um comentário definitivo e definidor do que poderia ser uma revolução, não mais com uma letra esperta, mas sonoramente desafiador, com o tipo de manipulação de fitas que Paul fazia já algum tempo, mas que John precisou do apoio de George (e Yoko onipresente) para dar vida. Um epitáfio: "Good Night" é descrita por Paul como um dos momentos de mais ternura por parte de John, e seria uma dádiva se alguma versão com ele fazendo voz guia aparecesse em alguma compilação piratex ou não... Mas Ringo não faz feio (mesmo) e George Martin cria com seu arranjo um belo clima hollywoodiano. E assim se encerra um clássico. Com o caos solto no mundo externo e interno dos Beatles, só nos resta embalar as crianças para dormir e esperar que tudo saia bem no fim-de-tudo.
Total Time:
Disc 1 - 53:34
Disc 2 - 50:43
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Disc 1 - Part 2
Disc 2 - Part 1
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