segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Magical Mystery Tour [Mono Mix]
01 - All You Need Is Love (Lennon/ McCartney)
02 - Baby, You're A Rich Man (Lennon/ McCartney)
Não havia se passado nem um mês do lançamento de Sgt. Pepper's e os Beatles já estavam em estúdio novamente, desta vez para uma gravação que seria transmitida via-salétite (wow!) ao vivo para todo mundo. Our World era o nome do projeto televisivo, parte do festival canadense Expo 67. A transmissão foi em 25 de junho, e o compacto sairia no dia 07 de julho! O que se ouve na gravação não é exatamente o que foi executado ao vivo. O banda já havia criado uma basic track mais cedo, e ao que parece o que tava valendo ao vivo era a orquestra e os vocais. Há ainda uma estória que eu não saberia confirmar (e não lembro onde li) que a versão do compacto original é diferente da versão que encerraria o Lp Magical Mystery Tour e dois anos depois o Lado 1 de Yellow Submarine. Mas só quem tem esse 45rpm histórico poderá confirmar alguma diferença... A música cita clássicos da canção popular ("Greensleaves", "In the Mood", "She Loves You"), faz um uso descarado do hino da França em sua introdução, e tem uma fórmula de compasso pouco convencional em suas estrofes. Já mencionei que John Lennon gostava da brincadeira, e aqui ele contrói suas estrofes (de belos versos) num 7/4. O Lado B do single trazia "Baby, You're a Rich Man" que é mais uma junção de duas músicas distintas, como foi "A Day in the Life" e como seria "Happiness is a Warm Gun". Destaque para o excelente trabalho contrabaixístico de McCartney (palheta e notas abafadas).
03 - Hello Goodbye (Lennon/ McCartney)
04 - Only A Northern Song (Harrison)
E aqui começa(?!) minha licença poética para mais essa compilação em Mono. "Hello Goodbye" foi lançada em compacto no dia 24 de novembro, mas o seu lado B era "I am the Walrus", que sairia pouco depois no... ah, você já sabe. Fica a deixa para usar a imaginação: por que "Only a Northern Song" - uma genuína sobra de estúdio de Sgt. Pepper's - não foi aproveitada como lado B nestes dois compactos de 1967? Levanto algumas hipóteses: a) "I am the Walrus" era boa e revolucionária o suficiente para sair tanto no disquinho de 7'' quanto em MMT; b) o ego de John falou mais alto: o lado A é de Paul; c) "Only a Northern Song" poderia não estar considerada concluída... é uma gravação deveras experimental. Há de se lembrar também que Harrison só viria a emplacar pela primeira vez uma composição sua num compacto dos Beatles em 1968 (ver "Lady Madonna" logo abaixo). Mas aqui sua música é estranha (porém magnífica) o suficiente para contrabalancear a perfeição pop de "Hello Goodbye", e seu riff baseado na escala diatônica. E quer lugar melhor para se dizer que "isso é apenas uma canção da Northern" (empresa que gerenciava os direitos das músicas de Lennon/ McCartney) do que o lado B de um mega-hit? Detalhe histórico: nunca existiu uma mix estéreo de "Only a NS", o que se ouvia nos antigos Lps e Cds Yellow Submarine era um chamado fake stereo. O cd remasterizado em caixinha digipack apresenta essa mesma mix mono.
05 - Magical Mystery Tour (Lennon/ McCartney)
06 - Your Mother Should Know (Lennon/ McCartney)
07 - I Am The Walrus (Lennon/ McCartney)
08 - The Fool On The Hill (Lennon/ McCartney)
09 - Flying (Lennon/ McCartney/ Harrison/ Starkey)
10 - Blue Jay Way (Harrison)
A trilha sonora para o novo filme dos Beatles (e primeiro projeto após a morte do empresário Brian Epstein) saiu pela Parlophone (UK) em 08 de dezembro num formato inusitado: dois compactos extendidos cada um com duas faixas no Lado A e uma no Lado B. Cheguei a manusear a belíssima versão nacional, original da época, num sêbo em São Paulo, mas infelizmente não tive condições de adquiri-lo. Mesmo sendo no formato compacto, o disco trazia o generoso libreto, esse ano reeditado nos Cds remasterizados, tanto Estéreo quanto o Mono. A diferença sendo, o que foi estabelecido como o Magical Mystery Tour da discografia dos Beatles é o Lp lançado pela Capitol nos EUA em novembro de 1967, disco que só sairia no Reino Unido em 1976(!). São essas mesmas faixas redistribuídas para um lado maior de Lp, e o lado B compilando três compactos (já comentados) do mesmo ano. E o filme pode até ser um saco (principalmente se você o assistir sem legenda), mas a música dos caras não caía de nível. Aliás o experimentalismo dos Beatles em estúdio atinge o ponto culminante aqui. Daí para frente eles buscariam uma volta a uma sonoridade mais básica. Os trompetes dão o tom na faixa-título, que tem um final extendido para uma jam session quase jazz. "Your Mother Should Know" é da mesma safra de "Good Day Sunshine" e "When I'm Sixty Four". É o fascínio de Paul pelos discos que o velho Jim McCartney ouvia em casa. Já em "I Am The Walrus" não há nada que possa se chamar de convencional.
O melotron tocado por John já tem um som um tanto sinistro. O arranjo de cordas capricha nos graves criando um clima soturno. A bateria entra seca, lembrando que isso é uma banda de rock, apesar da ausência de guitarras. A letra é o grande trunfo, uma continuação para o que Lennon havia lançado em livro (foram 02), inspirado por Lewis Carroll em suas justaposições de palavras sem qualquer relação aparente e livres associações de sentido, numa preocupação formal surrealista na criação de imagens. Poesia pura. Para completar o arranjo, John plugou um rádio à mesa de som, e na gravação ouve-se várias dessas inserções. Fora o côro bizarro, uma ótima maneira de se encerrar um lado de um disco (seja ele o lado B do compacto ou lado 1 do Lp).
"The Fool On The Hill" abria o segundo disquinho de maneira singela. É impossível não se derreter com a beleza dessa canção. Paul gravou as flautas, e aparece no filme sozinho, como o fool himself. Mas diferente de "Yesterday" ou "Eleanor Rigby", todos os outros Beatles colaboraram nessa gravação antológica. Encerrando o Lado A, a única música creditada aos Fab Four, e segundo registro instrumental do grupo (a outra sendo "Cry For a Shadow", disponível no Anthology 1). Como trilha do filme, funciona. Mas interessante mesmo é a contribuição de George para a trilha. "Blue Jay Way" é um lugar que ele havia se hospedado em Los Angeles. A letra fala na verdade do dia em que Derek Taylor, futuro assessor de imprensa da Apple, se perdeu numa neblina tentando achar o tal lugar. George-o-compositor escancara um órgão hammond, a bateria de Ringo é quase tribal, e um violoncelo é a cereja do bolo, que inclui ainda alguns efeitos eletrônicos (Harrison lançaria em dois anos o disco Electronic Sound aprofundando-se no assunto)...
11 - Lady Madonna (Lennon/ McCartney)
12 - The Inner Light (Harrison)
Já era 1968 e as sessões de fevereiro produziriam o 17º compacto (o último a sair pela Parlophone), lançado em 15 de março, além de mais algumas canções que seriam aproveitadas para a trilha da animação Yellow Submarine. Em "Lady Madonna" temos Paul dando uma de Fats Domino no piano, e um solo de sax altamente rock 'n' roll (para não perder o costume, os Stones fariam o mesmo um ano depois em "Live With Me"). Já o lado B teve a parte instrumental colhida na Índia em janeiro, durante as gravações do primeiro disco solo de um beatle: Wonderwall Music. George gravaria o vocal com algumas intervenções ao final de John e Paul um mês depois em Abbey Road. É a última da séria série George-o-indiano. E das mais belas, sem o clima pesadão das outras duas. Vale a pena conferir a versão do Concert for George.
13 - All Together Now (Lennon/ McCartney)
14 - Hey Bulldog (Lennon/ McCartney)
15 - It's All Too Much (Harrison)
Não existe o disco Yellow Submarine na caixa Mono. Essas três faixas, mais "Only a Northern Song" estão disponíveis como parte das Mono Masters. O detalhe é que é a primeira vez que essas mixes em mono são lançadas comercialmente, a trilha só saiu em janeiro de 1969, quando o Estéreo já havia se consolidado. Mas o filme estreou nos cinemas ainda em 68, e os Beatles já tinham essas músicas na manga antes mesmo de entrar em estúdio para gravar o Álbum Branco. "All Together Now" tem o poder de encantar crianças, minha filha que o diga; "Hey Bulldog" tem um dos melhores refrões da carreira de Lennon (numa progressão de acordes que ele voltaria a explorar); e "It's All Too Much" encerra esse disquinho como a quarta composição de Harrison (só o duplo álbum branco conseguiria tal feito), assim como ela encerra o excelente filme (ok, antes da reprise de "All Together Now") e também a Songtrack. A lisergia do arranjo e final extendido remetem à trilha do filme anterior. No fim das contas, apesar da assumida forçação, essas músicas não soam tão deslocadas assim do resto do material acima. É importante lembrar que no Yellow Submarine a música que seguiria é "All You Need Is Love". Tá vendo, nothing is real...
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2 comentários:
Só uma informaçãozinha boba: aí pela metade dos anos 80 o Cantinho da Música, uma loja de discos que existia no Calçadão da Laranjeiras, abriu seu acervo vendendo tudo -- inclusive um bocado de 78 rpm -- bem barato. Entre eles estavam um lotezinho bem razoável do MMT original, que saiu de catálogo aqui no Brasil quando unificaram as discografias em 1976 e adotaram o álbum americano. Comprei os que podia e, além de guardar o meu, dei os discos para alguns amigos.
O mais legal é que eu não tinha noção exata de como aquilo era difícil de achar.
O mais chato é que depois da remasterização de 1988 até os LPs perderam o livreto (assim como o Sgt. Pepper's perdeu aqueles brinquedinhos de papelão pra recortar e o Álbum Branco perdeu as fotos, deixando só o poster).
Não vi os CDs novos, mas acho difícil que mantenham esse material. É uma pena.
poo, fala sério..
será que algum desses amigos não estaria disposto a se desfazer de seu MMT naum? ;_)
ah, e os remasters valem a pena... todas as artes não só restauradas mas amplificadas!
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