quarta-feira, 23 de julho de 2008

Good Vibrations


Foi com alegria que recebi a encomenda de substituir Rômulo no Beach Boys Cover, por motivo de viagem do baixista titular. O meu castigo foi reconhecer que não era familiar com a discografia dos caras - mesmo com o líder Arthur tendo me passado a obra completa em um dvd em fevereiro -, tendo assim quase 3o músicas pra pegar em 02 semanas. Os ensaios tão rolando e o show é agora dia 26, sábado, na Live (antigo Tequila Café). É a primeira vez que vou tocar nesse lugar reformulado, e parece que depois de um período negro apenas voltado pro pop descartável, aqueles portões voltaram a abraçar o bom e velho rock 'n' roll. Há duas semanas Maria Scombona e The Baggios tocaram, e semana passada Plástico Lunar, Mamutes e Os Ordinários (PE) fizeram um som. Apesar de não ter comparecido, soube que as duas noites foram bem bacanas. Sábado é a vez da Surf Music, além da Beach Boys Cover a Vox toca repertório "surf" um pouco mais contemporânea. A diversão vai ser garantida, com certeza.


Apesar da loucura de pegar baixos e algumas vozes de um monte de música que eu nunca tinha ouvido direito, é lógico que minha relação com os Beach Boys não é de agora. Na primeiríssima viagem que fiz com a Snooze, em 1996 para Teresina/PI, um dos discos que chamou minha atenção na abençoada discoteca de nosso compadre Fernando Castelo Branco foi o Pet Sounds (1966). Aquele que você bate o olho e pensa, "isso deve ser bom, não é?". Fernando não só achou inconcebível eu nunca ter ouvido como prometeu uma fitinha com a gravação do álbum. E não é que naquela época essas coisas aconteciam mesmo? Recebi pelo correio uma fita com o Pet Sounds completo, e na sobra do Lado B ainda rolou Big Star, senão me engano (que merece outro post)...


O que dizer do Pet Sounds? Vou dizer muito não, apenas que se eu ouço de cabo a rabo, costumo ficar com os olhos cheios d'água desde "Wouldn't it Be Nice" (faixa 01), e em "God Only Knows" eu choro de vez. Essa, parece uma melodia rabiscada por um anjo e cantada por um querubim. É simplesmente a coisa mais doce que eu já ouvi na vida, e tem a capacidade de deixar qualquer melomaníaco como eu sem fôlego. Mas o disco reserva mais que isso: quando finalmente comprei o disco (na Baratos Afins, minha primeira ida a SP em 98), um trombonista amigo meu que torceu o nariz quando viu a capa, meses depois mandou recado dizendo que os metais em Pet Sounds fizeram ele mudar de opinião em relação aos Beach Boys. Além de metais, marimbas, tímpanos, gaita, sinos... tudo é mágico naquele disco. E os vocais... sem comentários.


O outro disco deles que mergulhei foi o Smiley Smile (1967), mesmo sabendo que era uma versão resumida do Smile, obra prima não-acabada na época. Mais recentemente ganhei de Saulo Coelho o Dvd "Brian Wilson presents Smile Live". O documentário e o show são os registros definitivos dessa fase, e também é de chorar regularmente a cada exibição.


Mas o show sábado pega mais pesado na fase "surf". Agradeci a Arthur pela iniciativa dessa banda (tá vendo, Coverama serve pra alguma coisa haha), pois além de apresentar o som dos caras pruma galera que poderia não ter acesso, pra mim que tive que entrar nessa gig, pôs em perspectiva toda essa fase inicial. É fácil ter preconceito, como muita gente tem restrição com a fase "ié-ié-ié" dos Beatles. Mas vá tocar e cantar. É tudo arte, e o que eles faziam, ninguém fazia tão bem. Falando nos Fab4, é bom ressaltar que os Beach Boys não influenciaram os Beatles apenas com Pet Sounds. Comparem "Surfer Girl" com "This Boy" (lado B de "I wanna hold your hand, 1963). É definitivamente a primeira tentativa de fazer uma "beach boy song". Anos mais tarde o próprio Paul mostraria pessoalmente ao Mike Love uma nova composição como outra tentativa de soar como eles: era "Back in the USSR", abertura do álbum branco (1968).

Esse post foi na verdade pra colocar para download um "best of" do repertório gigantesco que a gente vai tocar. De repente dá tempo de uns gatos pingados que descobrirem o blog a tempo decorar as letras e cantar junto conosco. ;)


Para baixar, é só clicar.

domingo, 20 de julho de 2008

Ladies and Gentlemen.... The Rolling Stones


Minha obsessão atual é a fase 60's dos Stones, ainda com Brian Jones. O que acontece é algo parecido com o que rolou anos atrás com minha Beatlemania, assim que conheci meu amigo psicólogo Fredão. Vou explicar: ouvi muito Beatles na minha adolescência, através de fitas k7 gravadas na casa de um tio beatlemaníaco, tanto por meu irmão Rafael quanto meu primo André. Essas compilações viraram minha primeira imersão no rock em inglês e teriam consequências definitivas em minha vida como montar uma banda e então decidir ser músico anos mais tarde; acontece que, ainda adolescente, qdo fui conhecendo outros sons - basicamente os clássicos anos 70's e o progressivo - , os Beatles ficaram, assim... 'in the closet', até eu conhecer Frederico, por volta de 1998, qdo eu engatinhava no curso de psicologia da UFS e ele já era tipo quinto período. Mas longe dos papos psi, nossos encontros eram basicamente pra tomar cerveja ao som de muito Beatles e discussões homéricas e filosóficas sobre Lennon, McCartney e os Rolling Stones (tá vendo, não perdi o fio da meada ainda hehe). Ouvir finalmente o álbum branco de cabo a rabo conhecendo as nuances, pegar o violão e tocar todo o songbook,... foi uma época inesquecível, e essa 'mania' desembocou no projeto Snoozing Beatles que acabou virando uma banda independente até do Snooze e de mim mesmo que deu a pilha no início. Beatles sempre vai ser minha escola referencial. Foi ouvindo os caras obsessivamente que aprendi inglês e a dar acordes no violão (a maioria dos que sou familiar até hoje), sem falar em harmonizar vocais, e também um pouco de funções harmônicas, que só veio cair a ficha bem mais tarde.
Mas eu também ouvia os Rolling Stones (é, vamo ao que interessa)!!!! E o primeiríssimo disco que me fez ter certeza que se tratava de uma bandaça foi o Between the Buttons que tinha na casa de Salsicha (irmão de Daniel, primeiro guitarrista do Snooze), original nacional, senão me engano mono. Nessa época eu já tinha noção de que um disco lançado em 1967 por uma banda rockenrou como os Stones devia ser bom. Mas a fitinha gravada por Rafael entregou muito mais que isso. Algumas das músicas ali nunca saíram de minha cabeça mesmo com anos (bote ano aí) sem ouvir a bolacha (lembrando que o mp3 não havia sido inventado hehe).
Pois bem, um belo dia de pesquisa musical na net (qdo ainda morava em SP), descobri que o catálogo dos Stones estava sendo relançado remasterizado em sistema DSD - que tecnicamente não sei exatamente o que significa, mas soa bem pra kcete!!! Bob Dylan tb teve seus discos relançados nessa onda, Beatles não. A essa altura eu já conhecia a maior parte dos discos dos Stones, mas era essa a chance que eu tinha (já no mundo dos mp3) de reaver boa parte dos discos deles que eu já tive (que foram roubados) e ainda ter o que não tinha, ouvir o que não conhecia, reouvir o que não lembrava, etc.
Mas essa "caça" relevou mais do que a encomenda: percebi que essa banda era particularmente difícil de entender a discografia porque muitos desses relançamentos eram discos que eu conhecia com tracklist diferente, até com capas distintas! Eu já tava ligado que lançamentos britânicos e americanos diferiam na época, mas a discografia dos Rolling Stones é um caso à parte. O troço beira o bizarro. A EMI costumava mudar os discos da Parlophone dos Beatles nos lançamentos ianques, mas o que chegou até nós consumidores mundiais anos mais tarde foi a proposta inicial, e não as adequações mercadológicas. Com os Stones o buraco é mais embaixo. Por exemplo, eu tinha o cd "Aftermath" de 1966, lançamento nacional da coleção "Satisfaction Years" (tinha até propaganda na tv alguém lembra?) que era o original britânico. Só descobri isso quando me deparei com esse relançamento pra baixar com capa totalmente diferente, três faixas a menos e "Paint it Black" abrindo o disco, faixa que nem sequer fazia parte do álbum que eu conhecia. Depois eu fui entendendo a lógica da coisa: os lançamentos americanos incluiam os singles que no Reino Unido não costumavam entrar nos álbuns. Prática que os Beatles se arrependem às vezes em depoimentos do Anthology. Mas enfim, eram os 60's e ninguém sabia que o negócio ia ficar tão grande. O troço com os Rolling Stones complica porque no Brasil alguns discos eram lançados do jeito britânico (Decca Recods) e outros do americano (London Records), vide por exemplo "Out of Our Heads", que saiu primeiro nos EUA com os single hits "Satisfaction" e "The Last Time". Mas o álbum de mesmo nome no Reino Unido saiu meses depois com outra capa que, pra piorar a confusão, essa mesma capa foi usada em outro lançamento americano, o "December's Children". O inverso havia acontecido meses antes, no começo de 1965, quando "The Rolling Stones No. 2" saiu na Inglaterra com a mesma foto de capa do "12x5" que saiu nos EUA ainda em 1964, o que deixa a discografia dos caras engraçada com um "no.2" sendo o terceiro disco com inéditas, vai entender...
Finalmente, qual não foi meu espanto ao baixar o remaster de "Between the Buttons" e notar de cara a ausência das duas músicas mais seminais pro meu entendimento da obra: "Let's Spend the Night Together" (faixa de abertura) e "Ruby Tuesday". Resposta: aquele vinilzão que tinha na casa do Salsicha era brasileiro e seguia o lançamento americano. O original britânico não incluía esse compacto duplo (o que quer dizer que não tinha lado B, eram dois lados A haha), e continha três músicas que eu não conhecia!!!! As tais faixas foram lançadas em outro disco americano, o "Flowers", que tb saiu no Brasil em cd, mas eu nunca tinha ouvido. Inclusive o Flowers tb foi remasterizado apesar de ser compilação, e o tracklist inclui o compacto duplo já mencionado. Mas pra mim (até por uma questão histórico-cronológica), "Let's Spend..." e "Ruby Tuesday" sempre serão associados ao "Between the Buttons", é tanto que a capa do single é a mesma do álbum.
É com esse clássico absoluto do cancioneiro psicodélico que eu inauguro esse blog (não por acaso o título do blog é uma das músicas do disco).

O single.
O álbum.

Fonte (do álbum): http://singhellogoodbye.blogspot.com/