Foi com alegria que recebi a encomenda de substituir Rômulo no Beach Boys Cover, por motivo de viagem do baixista titular. O meu castigo foi reconhecer que não era familiar com a discografia dos caras - mesmo com o líder Arthur tendo me passado a obra completa em um dvd em fevereiro -, tendo assim quase 3o músicas pra pegar em 02 semanas. Os ensaios tão rolando e o show é agora dia 26, sábado, na Live (antigo Tequila Café). É a primeira vez que vou tocar nesse lugar reformulado, e parece que depois de um período negro apenas voltado pro pop descartável, aqueles portões voltaram a abraçar o bom e velho rock 'n' roll. Há duas semanas Maria Scombona e The Baggios tocaram, e semana passada Plástico Lunar, Mamutes e Os Ordinários (PE) fizeram um som. Apesar de não ter comparecido, soube que as duas noites foram bem bacanas. Sábado é a vez da Surf Music, além da Beach Boys Cover a Vox toca repertório "surf" um pouco mais contemporânea. A diversão vai ser garantida, com certeza.
Apesar da loucura de pegar baixos e algumas vozes de um monte de música que eu nunca tinha ouvido direito, é lógico que minha relação com os Beach Boys não é de agora. Na primeiríssima viagem que fiz com a Snooze, em 1996 para Teresina/PI, um dos discos que chamou minha atenção na abençoada discoteca de nosso compadre Fernando Castelo Branco foi o Pet Sounds (1966). Aquele que você bate o olho e pensa, "isso deve ser bom, não é?". Fernando não só achou inconcebível eu nunca ter ouvido como prometeu uma fitinha com a gravação do álbum. E não é que naquela época essas coisas aconteciam mesmo? Recebi pelo correio uma fita com o Pet Sounds completo, e na sobra do Lado B ainda rolou Big Star, senão me engano (que merece outro post)...
O que dizer do Pet Sounds? Vou dizer muito não, apenas que se eu ouço de cabo a rabo, costumo ficar com os olhos cheios d'água desde "Wouldn't it Be Nice" (faixa 01), e em "God Only Knows" eu choro de vez. Essa, parece uma melodia rabiscada por um anjo e cantada por um querubim. É simplesmente a coisa mais doce que eu já ouvi na vida, e tem a capacidade de deixar qualquer melomaníaco como eu sem fôlego. Mas o disco reserva mais que isso: quando finalmente comprei o disco (na Baratos Afins, minha primeira ida a SP em 98), um trombonista amigo meu que torceu o nariz quando viu a capa, meses depois mandou recado dizendo que os metais em Pet Sounds fizeram ele mudar de opinião em relação aos Beach Boys. Além de metais, marimbas, tímpanos, gaita, sinos... tudo é mágico naquele disco. E os vocais... sem comentários.
O outro disco deles que mergulhei foi o Smiley Smile (1967), mesmo sabendo que era uma versão resumida do Smile, obra prima não-acabada na época. Mais recentemente ganhei de Saulo Coelho o Dvd "Brian Wilson presents Smile Live". O documentário e o show são os registros definitivos dessa fase, e também é de chorar regularmente a cada exibição.
Mas o show sábado pega mais pesado na fase "surf". Agradeci a Arthur pela iniciativa dessa banda (tá vendo, Coverama serve pra alguma coisa haha), pois além de apresentar o som dos caras pruma galera que poderia não ter acesso, pra mim que tive que entrar nessa gig, pôs em perspectiva toda essa fase inicial. É fácil ter preconceito, como muita gente tem restrição com a fase "ié-ié-ié" dos Beatles. Mas vá tocar e cantar. É tudo arte, e o que eles faziam, ninguém fazia tão bem. Falando nos Fab4, é bom ressaltar que os Beach Boys não influenciaram os Beatles apenas com Pet Sounds. Comparem "Surfer Girl" com "This Boy" (lado B de "I wanna hold your hand, 1963). É definitivamente a primeira tentativa de fazer uma "beach boy song". Anos mais tarde o próprio Paul mostraria pessoalmente ao Mike Love uma nova composição como outra tentativa de soar como eles: era "Back in the USSR", abertura do álbum branco (1968).
Esse post foi na verdade pra colocar para download um "best of" do repertório gigantesco que a gente vai tocar. De repente dá tempo de uns gatos pingados que descobrirem o blog a tempo decorar as letras e cantar junto conosco. ;)
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