terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Abbey Road [Stereo Remaster]

























01 - The Ballad of John & Yoko (Lennon/ McCartney)
02 - Old Brown Shoe (Harrison)

Um mês após o lançamento de Get Back, saía mais um compacto pela Apple, em 30 de maio de 1969! A 'balada' (aqui no sentido de saga, do tipo heróica) foi gravada inteiramente por John e Paul, e é um incrível exemplo de colaboração entre os dois, nos derradeiros meses de relação dentro da banda. Tudo funciona aqui, e o lado B consegue ser melhor ainda. A safra Harrison de '69 é tão alto nível que desembocaria num álbum impecável como All things must pass, lançado no ano seguinte. Essa foto acima parece ter sido tirada na casa dele, vide os anões de jardim que também estampam o citado disco solo. De todas as pérolas contidas na letra de "Old Brown Shoe", a mais emblemática é "I'm changing faster than the weather" (estou mudando mais rápido que o clima). Ave George, que faria aniversário no dia de hoje... (que escrevo, e não do post que demorou mais que o divórcio dos Beatles pra sair hehe).

03 - Come Together (Lennon/ McCartney)
04 - Something (Harrison)
05 - Maxwell's Silver Hammer (Lennon/ McCartney)
06 - Oh! Darling (Lennon/ McCartney)
07 - Octopus's Garden (Starkey)
08 - I Want You (She's So Heavy) (Lennon/ McCartney)

Finalmente, em 26 de setembro de 1969, saía o canto-dos-cisnes, a derradeira obra-prima dos FabFour. Último disco 'em vida' (o Let it be já foi um lançamento póstumo), os Beatles encerraram as atividades em grande estilo, no topo. Grandes bandas dos anos 70 como Deep Purple ou Black Sabbath, e até os Rolling Stones contém em suas extensas discografias discos altamente mais-ou-menos, em alguns casos ruins mesmo, o que é lamentável. Um exemplo recente de uma banda que soube parar no auge foi o Soundgarden. Mas é difícil comparar a discografia de qualquer banda à trajetória impecável de John-Paul-George-Ringo. E pro bem da humanidade (e dos bolsos deles), eles conseguiram resolver as diferenças dentro de uma grave crise e passar alguns meses no estúdio, construindo esse disco. A vontade de fazer um bom álbum é perceptível, o cuidado com os arranjos e execução é comovente. Difícil não considerar Abbey Road um dos melhores álbuns de todos os tempos! As duas primeiras faixas sairiam em compacto em 06 de outubro, sendo "Something" o seu lado A. Além do incrível arranjo de cordas, destaque para a matadora linha de baixo de McCartney, que já havia deixado sua assinatura em "Come Together", com letra tipicamente de John, o blues mais intelectual de que se tem notícia. "Maxwell's..." foi praticamete rejeitada por todos na banda, exceto seu mentor Paul, que insistiu tanto que conseguiu um resultado à altura do resto do disco. Melhor ainda é "Oh! Darling", que assim como a anterior havia aparecido nas sessões de Let it be. "Octopus's Garden" é uma linda música de Ringo sobre a vida sub-aquática a dois, with a little help from Harrison. Fechando o lado 1, a épica "I Want You", que seria a última sessão que os 04 fariam juntos. A música segue a tendência de John de juntar pedaços de canções diferentes pra formar uma nova. A seção "She's so heavy" - que vira uma coda repetitiva - criou tendência, reverberando tanto no rock progressivo quanto servindo de referência pro peso do metal!!

























09 - Here Comes The Sun (Harrison)
10 - Because (Lennon/ McCartney)
11 - You Never Give Me Your Money (Lennon/ McCartney)
12 - Sun King (Lennon/ McCartney)
13 - Mean Mr. Mustard (Lennon/ McCartney)
14 - Polythene Pam (Lennon/ McCartney)
15 - She Came In Through The Bathroom Window (Lennon/ McCartney)
16 - Golden Slumbers (Lennon/ McCartney)
17 - Carry That Weight (Lennon/ McCartney)
18 - The End (Lennon/ McCartney)
19 - Her Majesty (Lennon/ McCartney)

O lado 2 abre com mais uma pérola de George, que com seu tema bucólico abre espaço para uma das faixas mais melancólicas da carreira dos Beatles. Diz-se que "Because" foi inspirada na "Sonata ao Luar" de Beethoven, quando John pediu a Yoko para tocá-la ao contrário(!). Nunca entendi muito bem essa origem, mas de fato há uma semelhança no dedilhado. O grande gênio surdo da música que me perdoe, mas nada se compara às três vozes harmonizadas e duplicadas, cantando essa bela poesia. Se há algum trunfo entre música cantada sobre a instrumental, é quando letra e música se encaixam como se não houvesse possibilidade de separação. É o caso aqui: perfeita, tanto que é difícil ouvirmos versões de "Because"; se alguém se anima para executá-la, provavelmente o arranjo vai ser uma cópia exata do original. Assim como no lado 1, Paul aparece após seus colegas darem o recado. Só que dessa vez ele vai dar a direção para o resto do disco, pelo menos em termos de concepção. "You Never Give Me Your Money" é de fato o início de uma espécie de suíte, uma forma genial de abarcar um monte de música em um mesmo pedaço de disco. Essa mesma melodia volta mais pra frente dentro de "Carry That Weight", e o final das duas é idêntico. Mas antes, um interlúdio: "Sun King" é mais bucolismo, com um toque de ácido na estrofe que mistura línguas sem muito critério. Um sonho talvez. John parte para o rockão de "Mean Mr. Mustard", com baixo levemente distorcido, efeito perceptível principalmente nessa versão remasterizada. "Polythene Pam" é bobinha, mas assim rapidinha funciona bastante. A ponte para "She Came In Through..." também funciona, e o andamento aqui é acelerado se compararmos com a versão do Anthology 3, das Get Back Sessions. O que contribui pruma pegada funk de baixo e batera. Finalmente a seção final: "Golden Slumbers"-"Carry That Weight"-"The End" poderiam ser consideradas a mesma música. Mas essa divisão deixa tudo mais interessante. And in the end... cada Beatle tem sua chance de solar, começando com Ringo, depois Paul, George e John revezando-se nas guitarras. O baixo e bateria nesse trecho foi sampleado pelos Beastie Boys anos mais tarde em algum lugar do disco Paul's Boutique. E apesar do piano desafinado com o que vinha rolando antes, o final de "The End" é apoteótico. Não dá pra não imaginar que eles sabiam que esse poderia ser a "última valsa". A prefeição só é imaculada com a inclusão de "Her Majesty", o que é bem típico dos Beatles: não se levar muito a sério, mesmo que a música em questão seja das mais importantes de todos os tempos...

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