Hoje farei uma prova sobre esse livro do Wisnik, e também o "Curso e Dis-Curso do Sistema Musical (Tonal)" da Sekeff. A princípio esses trabalhos seriam resumos, portanto para não simplesmente jogar fora o que havia resumido, resolvi postar aqui, pelo menos os do Wisnik que já havia lido há mais tempo. Minha relação com esse livro começou quando eu ainda estudava Psicologia. Achei-o na biblioteca e devoreio-o sem entender metade de suas divagações extra-filosóficas acerca da música. Alguns anos depois ganhei um exemplar de presente de minha querida esposa, comecei a reler mas acabei deixando de lado. Qual não foi minha alegria ao descobrir que ia passar um semestre tendo que ler esse livro. Espero que meu resumo atraia outros leitores a essa obra, que deve ser adquirida na íntegra, é claro, ou pesquisada em alguma biblioteca....
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Resumo Parte 1
WISNIK, José Miguel, O Som e o Sentido, 2ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Parte I
Som, Ruído e Silêncio
Pulso e freqüência são os elementos mais básicos num som musical, podendo ser observados em nosso próprio corpo, através do pulso sanguíneo e das ondas cerebrais. Na música, o pulso se apresenta na forma de durações e alturas, que estão intrinsecamente relacionadas. Um pulso constante aumentando de freqüência torna-se altura melódico-harmônica, a princípio grave, inconstante, tornando-se mais agudo e definido se continuarmos a aumentar sua freqüência até o ponto em que se torna inaudível para nosso aparelho auditivo. Nessa perspectiva, ritmo e melodia não são instâncias separadas, mas ganham em dimensão se as entendermos como indissociáveis entre si.
Uma onda sonora é bem mais complexa do que uma curva sinusoidal, daí a importância do estudo da série harmônica. O som depende do silêncio – também nosso sistema auditivo – e o silêncio só existe por causa do som, e, mais importante, essa onda é na verdade um feixe de ondas complexas, algumas mais ordenadas que outras. Ou seja, organização/ caos, definição/ ruído, presença/ ausência, fase/ defasagem, consonância/ dissonância, tensão/ repouso... Essa gama dialética de contradições inerentes ao fenômeno sonoro leva o autor a uma reflexão filosófica, comparando essa complexidade ao yin-yang da filosofia oriental, o que orientaria todo um entendimento do som musical como objeto metafísico, pela sua natureza não-material, e pelos diversos exemplos culturais de uso ritualístico, associados à religião e também às paixões do espírito, à capacidade da música de eliciar diferentes emoções nos seres humanos.
Mais uma relação dialética: o ruído, de acordo com a teoria da informação, significa interferência na comunicação. A música modal praticada em culturas não-influenciadas pelo tonalismo ocidental costuma integrar ruído à sua música. Da gama variada de instrumentos de percussão aos seus melismas vocais, tal música é viva e caótica, bem diferente da assepsia de uma igreja renascentista, preparada acusticamente para se entoar cantos gregorianos, idealmente livre de interferências sonoras exteriores. A música do mundo – do ruído branco do oceano à cacofonia do trânsito nas cidades – é barulho desordenado, e o que fazemos ao cantar ou tocar é instaurar ordem nesse caos. O que o autor propõe como “uma outra história das músicas” é traçar uma linha que vai de um tempo bem antes do marco zero que nos acostumamos a pensar a História da Música, o cantochão, até ponto de inflexão que ocorreu na virada do século XIX ao XX, com o advento do atonalismo. O que costuma ser pensado como uma revolução de linguagem – o serialismo, por exemplo, nega todo e qualquer centro tonal –, poderia ser interpretado como uma volta a uma predominância do pulso em detrimento das alturas. O minimalismo trabalha com manipulação de timbres e repetição. Se hoje o ritual de ouvir música significa apenas colocar um CD no aparelho, ou seja, temos o poder de interrompê-la ao bel prazer, a música ambiente está em toda parte, fazendo fundo – criando sentido – no meio da cacofonia incessantemente urbana.
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