quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Revolver [Mono Mix]

01 - Paperback Writer (Lennon/ McCartney)
02 - Rain (Lennon/ McCartney)

Lançado em 30 de maio de 1966, o compacto #12 da discografia Fab trazia uma sonoridade mais orientada para o peso das guitarras, baixo incluso. Até o volume da gravação na prensagem do 45' original era superior ao que se lançava antes. E na mix, nunca o baixo de Paul foi colocado tão "na cara". É certamente um sinal que o domínio de Macca na liderança do grupo já estava se consolidando. Além de peso, "Paperback" trazia arranjos vocais sofisticados, difíceis de serem reproduzidos ao vivo, o que seria uma das desculpas que eles usariam para abandonar os palcos alguns meses na frente. Já "Rain" aproxima ainda mais os Beatles de um som psicodélico, ainda em processo embrionário, mas experimentando vozes tocadas ao contrário, e alguns efeitos interessantes. Um excelente aperitivo para a bomba (no bom sentido) que explodiria no álbum a seguir.

03 - Taxman (Harrison)
04 - Eleanor Rigby (Lennon/ McCartney)
05 - I'm Only Sleeping (Lennon/ McCartney)
06 - Love You To (Harrison)
07 - Here, There and Everywhere (Lennon/ McCartney)
08 - Yellow Submarine (Lennon/ McCartney)
09 - She Said She Said (Lennon/ McCartney)

A capa já é um susto; nos créditos George é o compositor da faixa de abertura; na bolacha uma contagem por cima de um som de rolo de fita voltando, mais uma tosse (!)... A impressão é de que tudo é peculiar em Revolver. Para muitos é o melhor álbum dos Beatles pois ainda dá pra sentir um trabalho de banda, mesmo com uma "Eleanor Rigby" que é quase Paul solo (mais uma vez). O que interessa, as canções, são o grande trunfo enfim. Uma pedrada após a outra. O baixo de "Taxman" é funk dos bons, e solo rasgadão de guitarra também é cortesia de Mr. Macca. "Eleanor Rigby" é daqueles momentos inspirados e definidores de uma carreira, no caso a de Paul. Obra-prima sem par. "I'm Only Sleeping" é deliciosamente preguiçosa e traz guitarras ao contrário no solo, o que na época era grande coisa! E se o ouvinte desavisado achar que tudo ainda parece com Beatles, o que dizer de "Love You To"? Mais uma bola dentro de Harrison: a música indiana havia entrado em sua vida, e ele sabiamente trouxe essa linguagem pra banda e encontrou sua voz - um beatle que compõe música indiana com tempero psicodélico. A balada que segue é um respiro necessário após ouvir "Love u2", e "Here, There..." tornou-se mais um standard no repertório de... Paul McCartney!

Na mesma data de lançamento do álbum (05 de agosto), "Yellow Submarine" era também lançada em compacto, o 13º da carreira. Deve ser número da sorte, pois essa faixa de inspiração infantil cantada por Ringo renderia um filme de animação e um disco a ser comentado neste blog em breve. Mas a canção merece! A gravação é cheia de efeitos especiais e a letra por mais simples que pareça é rica o suficiente para inspirar um roteirista... Encerrando o lado 1 de Revolver mais uma piração: "She Said She Said" é clássico Lennon, com uma breve mudança de compasso (quaternário pra ternário) no B, e guitarras! Muitas guitarras...


10 - Good Day Sunshine (Lennon/ McCartney)
11 - And Your Bird Can Sing (Lennon/ McCartney)
12 - For No One (Lennon/ McCartney)
13 - Dr. Robert (Lennon/ McCartney)
14 - I Want To Tell You (Harrison)
15 - Got To Get You Into My Life (Lennon/ McCartney)
16 - Tomorrow Never Knows (Lennon/ McCartney)

O lado 2 começa com uma gravação peculiar, a primeira tentativa (séria) de Paul de emular o som dos anos 30-40, influência que ele recebeu de seu pai. Em "Good Day Sunshine" ouve-se basicamente piano (George Martin), bateria e vocais. E não é que funciona? As guitarras voltam com sede de gás em "And Your Bird Can Sing". O que domina é o som das Rickenbakers 12 cordas. Reza lenda que o baixo dessa gravação é de George, depois que Paul abandonou o estúdio. Realmente a versão do Anthology (aquela das gargalhadas) tem uma linha de baixo bem diferente... E o baladeiro-mor emplaca mais uma: "For No One" tem aquele toque nostálgico/ heróico de uma trompa (o trompista: Alan Civil), e melodia belíssima. "Dr. Robert" é o dentista que colocou LSD nos chás de John e George + esposas, e o que fazer com isso? Escrever uma canção, ora. A música tem uma parte B interessante, em suspensão, para depois voltar ao backbeat característico. A terceira contribuição de George é rock clássico, antes de isso sequer existir. Deve ser por isso que Beatles são criadores de estética, não de uma mas várias. Grande música, ainda acredito que "I've got time". É um bom lema. Já "Got To Get You Into My Life" é uma declaração de amor. Daquele mesmo tipo que o Black Sabbath cantaria 05 anos depois em "Sweet Leaf". E se mesmo talking about it a canção é pouco psicodélica com seu arranjo à Motown (com McCartney mandando umas frases pinceladas de James Jamerson com bastante propriedade), em "Tomorrow Never Knows" os limites não existem pro que se pode fazer em termos de experimentalismo num estúdio.

Tudo num mesmo caldeirão: pedaços de fita cortados
embrulhados em um saco plástico e conceitos avant garde seriam a contribuição de Paul para "Tomorrow Never Knows" (além de provavelmente o piano ao final da faixa, e o solo de guitarra, backwards), não esquecendo o baixão groovado em uma única nota contribui para o clima hipnótico da peça. Bass and drums: sem Ringo, essa música jamais teria "acontecido". Da forma que foi executada e gravada (a chamada master take) ela nunca poderia ter sido reproduzida. Um happening como outro qualquer. Isso porque para conseguir mixar os loops de fita (as "gaivotas"), tudo seria improvisado. Uma galera, várias máquinas de fita e alguns lápis. Esse foi o caldeirão cozido por John, motivado pela leitura de The Psychedelic Experience, que por sua vez era uma leitura do Livro Tibetano dos Mortos, e temperado pela música indiana - o centro tonal (Dó) é estático; mesmo com a única mudança de acorde, a nota mais grave (fundamental) continua sendo Dó. Uma música modal, que não segue um pensamento tonal (caracterizada por progressões as mais diversas). Uma idéia trazida aos Beatles através de George, claro. A tambura já havia sido apresentada lá na primeira esquina de Revolver. The end of the beginning.

Total Time:
40:59

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Part 1
Part 2

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