segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Unfinished Music No.2: Life With The Lions [1969]

O novo lançamento da Zapple Records saiu apenas 7 dias após o Electronic Sounds de Harrison. O título é uma referência ao famoso programa da rádio britânica (Life with the Lyons) que John Lennon costumava ouvir com seu tio George, quando garoto em Liverpool. Claro que a mudança de uma letra continha um ácido comentário sobre a rejeição geral que sua nova parceira musical sofria na pele em relação aos outros Beatles, e em todo o lugar onde passava. A foto da contra-capa é peculiarmente ilustrativa, mostrando o momento em que uma "fã" arranca um fio de cabelo de Yoko, num momento já difícil - o casal estava sendo levado à delegacia, acusados de porte de maconha (incidente que perseguiria-os por muitos anos a frente em Manhattan). Sentindo-se o próprio "Daniel na cova dos Leões", a capa mostra outro momento difícil, quando Ono perdeu o que seria o primeiro filho do casal (John Ono Lennon II, acredite), e o pobre MBE teve sua cama levada após um dia em que estava ao lado da paciente. "No Bed for Beatle John", a peça, é exatamente sobre isso.

Enquanto Two Virgins era espontâneo em sua experimentação com gravadores em um mesmo espaço, como uma espécie de suíte durando uma noitada regada a drogas, o No. 2 da série é feito de faixas sem aparente relação umas com as outras. O resultado é mais cerebral ou, se preferir, mais chato. Há algum grau de interesse na longa faixa que toma todo o lado 1, "Cambridge 1969", primeiro por ser uma gravação ao vivo, uma das primeiras performances do casal, em março daquele ano. Descontada a gritaria interminável, o trabalho de microfonia da guitarra de John é bastante interessante, especialmente quando o baterista John Stevens responde com os pratos (e a essa altura já estamos beirando os 20min dos mais de 26...). Os universitários de Cambridge não acreditaram que um Beatle pudesse fazer uma performance tão avant-garde, já os que conheciam Ono como artista plástica não devem ter se espantado tanto... Lá pro fim da peça podemos ouvir John Tchicai no saxofone soprano, o que contribui para o clima free-jazz, mas insisto que os berros de Yoko infelizmente tomam demais as atenções do que poderia ser uma grande jam session.
O lado 2 do vinil original foi gravado em fita ainda em 1968, exatamente durante a estadia do casal no hospital Queen Charlotte. A citada "No Bed for Beatle John" é Yoko a capella, em uma melodia de sabor oriental (japonesa, imagino). Ao mesmo tempo pode-se argumentar que seu canto (e o contracanto de John, ao fundo) lembram o Canto Gregoriano dos monges da Idade Média. Isso dá o que pensar sobre o paradigma Ocidente X Oriente, mas vou deixar a brecha para outro post... "Baby's Heartbeat" é o rebento ainda com vida intra-uterina, num tipo de gravação que seria imitado por Max Cavalera no disco Chaos A.D. do Sepultura. Pelo menos Max foi mais sensato, e usou os batimentos cardíacos do filho como introdução do disco, apenas. "Two Minutes Silence" é exatamente isso. Hoje em dia é fácil "desprogramar" a faixa, mas pensemos no disco de vinil. Lá no meio do lado 2 você é obrigado a "ouvir" 2 minutos de silêncio. A ideia deve muito a John Cage, claro, mas devemos lembrar que o casal perdeu o bebê, então a faixa serve como um luto, interrompendo os batimentos cardíacos que martelam por 05 min. Fechando a bolacha, "Radio Play". Parece que Joko Nono & Cia. estavam mesmo dispostos a imprimir uma estética Cageana à sua produção alternativa. Só que diferente das experiências com rádio do outro John, o casal limitado a um quarto de hospital, gravou o som do dial do rádio indo pra frente e para trás, enquanto podemos ouvir Lennon ao telefone, conversas triviais, aquela coisa doméstica. A faixa dura 12 min (...).
Por fim, temos os bonus tracks incluídos na versão em CD. "Song for John" é outra balada folk, assim como "Remember Love", bônus em Two Virgins. "Mulberry" traz como novidade o que parece ser um dobro, tocado com slide por Lennon. E os vocalizes de Yoko são menos agressivos, provavelmente devido a seu estado de saúde. Ela bem que podia ter estado mais doente durante outras sessões dos dois.. Brincadeiras à parte, melhor citar o sábio George Martin: "No Comment"!

Aqui (.mp3, 192 kbps).

2 comentários:

carro disse...

Esses críticos deveriam, se conter em apenas falar sobre John, pois quando se relacionam a Yoko ,sempre acabam falando merda, justamente porque não conhecem nada sobre artes plásticas e tão pouco sobre arte contemporãnea. Não que eu queira defender a esposa de um do maior compositor do século XX, mas estou cansado de ver esses caras falarem da voz, dos gritos da japonesa com a mente e os ouvidos de tijolos, sem estarem aberto para outros formatos artísticos, onde o audio é apenas m veículo, mas não com a necessidade de se fazer música somente para os ouvidos acostumados com o convencional. O esperimentalismo está para todo o nosso corpo, inclusive para nesrvos e cérebros

Fabio Snoozer disse...

Caro "carro", quem são esses críticos?
saudações