E ae. No post passado chamei aquele exemplo de "escala diatônica". Segue uma explicação para quem nunca estudou na vida: a escala de dó maior é uma escala que só contém notas "naturais", a saber: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. E quais seriam as notas "não-naturais"? Quaisquer dessas, com alguma alteração (sustenido ou bemol). Pois bem, o intervalo entre as notas naturais vai ser o modelo para qualquer escala maior, por isso ela pode ser designada como 'a' escala diatônica. O esquema intervalar é o seguinte: tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom. Um tom no contrabaixo corresponde a duas casas, um semitom a uma casa. Os semitons na escala diatônica encontram-se entre as notas Mi e Fá, e entre o Si e o Dó (oitava nota, repetição da primeira). Ou seja, podemos dizer que os semitons em qualquer escala maior devem aparecer entre os graus III e IV, e entre o VII grau e a oitava. Todos os outros intervalos serão de um tom.
Voltando ao Lily Pond, lembremos como escrevi a escala diatônica:
\relative { c d e f g a b c }
As letrinhas entre as chaves correspondem às cifras usadas para indicar acordes. É dessa forma que escrevemos as alturas (notas) no LP. Já as figuras rítmicas escrevemos com números, da seguinte forma: semibreve - 1; mínima - 2; semínima - 4; colcheia - 8; semicolcheia - 16; fusa - 32; semifusa - 64. Ou seja, sem novidades, esses são os valores proporcionais que já servem pra manipularmos a duração das notas musicais. Mas por que no exemplo não apareceu nenhum número? É que algumas coisas são automáticas pro LP, se não indicarmos nada diferente, ele já escreve as notas em semínimas, na clave de sol e no compasso 4/4 (aquele 'C' após a clave). Mas tudo isso pode ser modificado, é claro. Vamos começar abolindo a Clave de Sol, e adotando a Clave de Fá, afinal isso aqui é o blog de um baixista! ;) A diferença das duas claves é de tessitura, como diferentes registros de voz, basta comparar um soprano a um baixo, a idéia é a mesma. No piano é fácil visualizar: escreve-se para a mão esquerda em clave de fá, e a mão direita na de sol.
Posto isso, vamos criar a escala de Sol Maior. O 'sol' que será a tônica dessa escala vai ser aquele da terceira casa na quarta corda do baixo. Pra soar grave daquele jeito, precisamos da clave de fá, e escrevemos o sol na primeira linha do pentagrama. Seguindo aquele esquema da escala diatônica (t-t-st-t-t-t-st), faz-se necessária uma alteração! O sétimo grau (Fá) natural não fecha o último tom nem o próximo semitom (mi-fá é um semitom e fá-sol um tom). Mas se acrescentarmos um sustenido (#), caracterizamos a escala maior. A escala seria escrita assim:
\relative c
{
\clef bass
\time 2/2
g2 a b c d e fis g
}
O 'relative c' refere-se ao registro da primeira nota. Por hora, basta saber que se não pusermos isso, o sol escrito seria mais agudo do que aquele da terceira casa, quarta corda no baixo. 'Clef' é o termo em inglês para clave. 'Clef bass' então é a clave de Fá (lembrando que se não colocarmos isso a clave de Sol é automática. 'Time' refere-se à fórmula de compasso; se não indicarmos nada o compasso automático é o 4/4. Nesse exemplo usei um 2/2, só pra variar. Na partitura isso será representado por um 'C' cortado no meio. O número dois após o 'g' refere-se à figura rítmica (mínima). Percebam que se não preciso mudar a figura, o padrão fica sendo o último número escrito. Agora é só copiar, colar no bloco de notas, salvar (extensão ".ly"!!!), clicar em cima, gerar o ".pdf" e abri-lo pra visualizar a escala de sol maior na clave de fá.
Ah, já ia esquecendo: o fá sustenido foi escrito como 'fis'. Então qualquer nota alterada com sustenidos vai ter esse sufixo -is. Os bemóis serão -es. Parece complicado? Ainda estamos no básico, criem suas próprias escalas pra testar os resultados. Sugestões são bem-vindas.
Um comentário:
Muito bom. Vá em frente. QUanto mais textos em português, melhor.
Hugo
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